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O Estado do Pará possui um riquíssimo patrimônio cultural, que se destaca pela sua diversidade e pluralidade de manifestações, saberes, ofícios, artefatos e lugares. Entre esses bens, o conhecimento dos mestres carpinteiros das regiões ribeirinhas de nosso Estado, cujo ofício é a fabricação artesanal de embarcações comumente usadas no transporte fluvial em nossa região, são expressões culturais de grande importância.

A vida das populações ribeirinhas está diretamente ligada à utilização dos barcos construídos artesanalmente, já que o rio é o principal meio pelo qual estabelecem comunicação, comércio e diversas outras atividades. Por outro lado, os saberes dos mestres carpinteiros representam técnicas artesanais tradicionais, aprendidas através da observação e da experimentação, onde a construção de embarcações é cercada de um complexo processo de planejamento e execução que implica desde a extração de madeira até o deslocamento final da embarcação para o uso. Nesse bairro, onde permanece em atividade um dos maiores e mais antigos estaleiros artesanais da região, Francisco Oliveira, Mateus Moura e Samir Raoni realizaram o documentário “Saberes de Mestres Carpinteiros: Conhecer para Valorizar”, realizado de julho a novembro de 2011 entre idas e vindas de Belém a Região do Salgado, cidade histórica de Vigia, passagem Boa Vista, conhecida também como Rua do Funil. Um dos estaleiros de onde os mestres carpinteiros retiram o sustento para suas famílias.

 

O crescente uso da tecnologia digital, desde a década de 80, e a busca por cursos de formação técnica e acadêmica tem desviado a atenção das gerações atuais de suas referências culturais. Dessa forma, o conhecimento dos mestres carpinteiros tem sido relegado ao esquecimento e o processo de transmissão que o envolve está sendo interrompido pela diminuição do interesse dos jovens, o que representa a possibilidade da perda de elementos expressivos da cultura material e imaterial de um povo, cujo ofício sempre esteve diretamente relacionado com o saber transmitido entre as gerações.

 

Como conseqüência, tanto o conhecimento dos mestres carpinteiros quanto os estaleiros artesanais, onde as embarcações que percorrem os rios da Amazônia são construídas, estão correndo risco de desaparecimento. As entrevistas até agora realizadas revelaram as preocupações dos mestres carpinteiros com a dificuldade em transmitir esse conhecimento às gerações atuais. Os depoimentos revelaram que os mestres carpinteiros não têm obtido êxito na continuidade da transmissão e não conseguem fazer frente às políticas públicas que proíbem o trabalho infanto-juvenil, considerando que os mestres que atualmente trabalham como carpinteiros navais, em sua maioria, aprenderam o ofício durante a infância. Nesse sentido, o decréscimo do número de praticantes da carpintaria nos estaleiros artesanais têm sido uma das maiores ameaças para a continuidade desse saber e para a existência do patrimônio cultural imaterial amazônico.

No entanto, é notória a utilização de embarcações de diversos tipos no cotidiano das populações do Estado do Pará e, conseqüentemente, do conhecimento dos mestres carpinteiros que as produzem. A vida das populações ribeirinhas está diretamente ligada à utilização dos barcos construídos artesanalmente, já que o rio é o principal meio pelo qual estabelecem comunicação, comércio e diversas outras atividades.  Por outro lado, os saberes dos mestres carpinteiros representam técnicas artesanais tradicionais, aprendidas através da observação e da experimentação, onde a construção de embarcações é cercada de um complexo processo de planejamento e execução que implica desde a extração de madeira até o deslocamento final da embarcação para o uso. O processo de criação de um barco possui um valor tradicional e evocativo, já que é uma atividade de construção coletiva e que envolve relações sociais cotidianas que estão ligadas ao trabalho, a família, ao aprendizado e a uma forma de transmissão de conhecimento não-acadêmico, mas transmitido de geração em geração. O conhecimento dos mestres carpinteiros está diretamente ligado ao conhecimento que possuem da floresta e seus recursos. Esse conhecimento foi adquirido ao longo do tempo, por séculos, devido à necessidade de adaptação ao meio ambiente. Permanece ainda entre eles esse saber, que é o de reconhecer os tipos de árvores a serem utilizadas na fabricação de embarcações. Deve-se considerar também enquanto valor econômico, que o trabalho que se desenvolve nos diversos estaleiros artesanais engloba uma cadeia produtiva necessária à realização da atividade, da qual muitas famílias são sustentadas e sobrevivem.

Francisco Oliveira
Historiador, especialista em Patrimônio Histórico,Artístico e Cultural do Pará, Pela UFPa
Idealizador do "Museu do Mestre"

Documentário sobre o ofício da fabricação artesanal de embarcações na Amazônia produzido na região do salgado, Vigia-Pa

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